domingo, 25 de março de 2012

Bernini e o Barroco


Bernini e o Barroco
Êxtase de Santa Teresa (1645-1652), Gian Lorenzo Bernini,
Igreja de Santa Maria della Vittoria, Roma. (à direita um detalhe da obra)


   
   A arte barroca é exageradamente dramática, toda a técnica das luzes, sombras e torções, tem foco na exaltação dos sentimentos para motivar a fé. O Barroco europeu esteve inserido em uma sociedade dividida; havia de um lado as igrejas protestantes, condenando as imagens religiosas e de outro, o Catolicismo, que tentava reafirmar sua tradição. Há de considerar que os cultos protestantes não eram executados em Latim, mas na língua pátria do fiel, assim como a bíblia, também traduzida para seu idioma. O cisma protestante com respeito às imagens nos cultos motivou o interesse dos fiéis dessas novas igrejas do pela alfabetização.
   Neste contexto, as imagens católicas assumiram uma atitude de êxtase espiritual. O Barroco do séc. XVII imprimiu empatia[1] nas imagens, já carregadas de mensagens desde a Idade Média e acrescentadas de classicismo[2],durante a Renascença. No Barroco dos países católicos, além de aprendidas e contempladas, as imagens sacras também foram sentidas. 
   Houve um artista italiano que representou essa mística exaltada de forma extremamente erótica, seu nome era Giovanni Lorenzo Bernini (1598-1680). Bernini entalhou em mármore dois êxtases religiosos. Pode-se divagar sobre como o Vaticano permitiu que estas imagens fossem exibidas em suas igrejas; talvez pela impotência ante a tanta beleza, ou plena consciência do apelo afetivo contido nas imagens e de como isso atrairia as pessoas, quem sabe os padres não soubessem identificar as expressões nos rostos de Santa Teresa de Ávila  e da beata  Ludovica Albertoni ?... Mas o escultor Bernini, este sabia, com certeza!

Êxtase da Beata Ludovica Albertoni e (detalhe) 1675. Igreja de São Francisco em Ripa, Roma.


[1] Empatia: s.f. Psicologia e Filosofia. Faculdade de perceber de que modo uma pessoa pensa ou sente. Fonte Dicionário Aurélio

[2] Feito à moda dos clássicos, gregos e romanos da antiguidade. Diz respeito ao pensamento filosófico e literário, tanto quanto às artes visuais (simetria, proporcionalidade, estudos anatômicos e de movimento). 

  


domingo, 18 de março de 2012

O mito cotidiano de Orfeu. 
  Orpheus by Franz Von Stuck, 1891.
 Fonte visionsofwhimsy.blogspot.com.br

    As narrativas de mitos e suas metáforas[1] foram utilizadas durante toda a história humana para informar e educar, talvez dos mitos tenham surgido as primeiras parábolas[2], contos verossímeis que há milhares de anos conscientizam e alertam sobre os riscos de uma má conduta.
   O mito grego de Orfeu, por exemplo, pode dizer muito sobre os relacionamentos amorosos. Quanto mais em um mundo cheio de possibilidades e aventuras afetivas as quais estamos expostos, cotidianamente, nós e nossos entes amados. Orfeu é na mitologia grega o patrono da música, que por amor a sua finada esposa, Eurídice, desceu até as profundezas do Hades (morada dos mortos) para buscá-la. Pelas notas de sua lira[3] ele encantou o cão Cérbero, feroz guardião do submundo que possuía três cabeças e alimentava-se de corpos. Ao se encontrar com o deus Hades, senhor de todas as almas e soberano das profundezas, com melodia Orfeu o fez refletir sobre o amor entre os mortais, mais intenso pelo fato de estar fadado a acabar, por mais que os seres humanos se amem. 
   Consternado, o deus compreendeu a falta, a saudade e a perda as quais nós, homens e mulheres, estamos sujeitos. O deus Hades então permitiu que Eurídice seguisse seu marido para fora das profundezas, mediante a condição de que Orfeu não olhasse para trás até que ambos atingissem a superfície. Orfeu deveria confiar que ela o seguiria. Próximo de alcançar a luz do Sol Orfeu deu uma olhadela para trás, e logo que seu olhar cruzou com o de sua esposa, esta foi tragada por uma ventania de volta para o abismo de Hades. 
  A falta de confiança em si mesmo e em sua amada derrotou o herói! O mito de Orfeu ensina, entre outras coisas, a confiar em quem amamos e a confiar que também somos amados.    


[1]Metáfora s. f. emprego de um termo em sentido figurado, em que a significação natural de uma palavra é substituída por outra, só aplicável por comparação subentendida . Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
[2]Parábola s. f. Narração alegórica que envolve algum preceito de moral, alguma verdade importante.
  [3]Instrumento de cordas dedilhadas usado na AntiguidadeFonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Orpheus and Eurydice, Christian Gottlieb Kratzenstein, , 1806