quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sobre patas e rodas; das cavernas às garagens.


                      
                     Sobre patas e rodas; das cavernas às garagens.

Desde a fase animista[1] da humanidade, há exemplo do boi e do cavalo, então transformados em objetos de adoração fetichista[2] e desenhados nas paredes, esses animais têm sido possuidores de imensa carga ideológica. Tanto que, nos 40 mil anos de arte, a humanidade tem reinventado os conceitos e as formas de representá-los. De tal forma a transformá-los em ícones.
                                  Cavalo, gruta de Lascaux, França,  15.000 aC.  /  Bisão, gruta de Altamira, Espanha, entre 15.000 e  10.000 aC.

Na antiguidade, o boi e o cavalo alçaram o status de divindades. Quanto ao boi, esse era adorado pela sociedade minóica. Os babilônios o projetaram no céu como um signo do zodíaco. O povo egípcio venerou duas divindades zoomórficas bovinas. Os assírios viam no touro força, divindade e autoridade. Os gregos o relacionaram a Zeus. 
 O boi não foi deixado de fora nem da história bíblica, neste caso de forma pejorativa, quando os hebreus foram acusados de idolatria por Moisés.
 O cavalo passou pelo mesmo afã de importância que o touro. Foi pintado nas cavernas pelos homens primitivos, domesticado e transformado pelos antigos em instrumento de trabalho e guerra. Os gregos fizeram dele um dos símbolos do deus Apolo, tendo sido ele, o cavalo, o engodo mais famoso da mitologia, o “presente de grego” para a tomada de Tróia. 
 Ainda pelos gregos ganhou asas e nomeou a constelação de Pegasus, era também símbolo da deusa Epona, uma divindade Celta cultuada em Roma.  
 Em nosso tempo, boi e cavalo se tornaram símbolos de uma infinidade de marcas, incluindo as duas marcas automobilísticas mais desejadas do mundo. O marketing fez com que esses dois animais roncassem em muitas cilindradas através de motores Lamborghini e Ferrari. Os carros citados comprovam o poder que os seus símbolos projetam. Seus designers e tecnologia fazem deles mais que apenas conjuntos mecânicos, colocando-os no rol das obras de arte e da ciência de ponta. Lamborghini e Ferrari protagonizam uma das disputas empresariais mais interessantes da história contemporânea. 
Conta-se que Ferruccio Lamborghini, rico fazendeiro e fabricante de tratores italiano, descendente de uma família tradicional de toureiros e comprador assíduo de carros Ferrari, certa vez encontrou-se com Enzo Ferrari  durante a revisão de um dos carros de sua coleção. Ao sugerir a Enzo algumas modificações no sistema de embreagem das ferraris, Ferruccio Lamborghini teria sido tratado com descrédito por Enzo, o qual teria lhe dito que um fazendeiro, fabricante de tratores, não tinha nada que discutir sobre carros de alto desempenho. Ferruccio, bem ao estilo dos italianos brigões, respondeu a Enzo Ferrari que faria um carro melhor que os dele. Desde então, 1963, ano do lançamento do primeiro carro Lamborghini, todos os modelos levaram nomes de touros.
 Cavalo e touro italianos continuam brigando pela preferência de seus fiéis. Seus símbolos ainda são, como no início da humanidade, marcas de  fortuna, potência, desejo e sucesso. Não há como desconsiderar a força icônica que ambos sustentam. 
   
[1] Animismo: s.m. Religião primitiva que atribui uma alma a todos os fenômenos naturais e que procura torná-los propícios por meio de práticas mágicas.
[2] Fetichismo: s.m. Culto dos fetiches, ou feitiços; veneração exagerada, supersticiosa, de objetos inanimados que se crê estarem ligados aos espíritos e que, por isso, passam a representá-los simbolicamente.



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